segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Versificação - 9º ano do Ensino Fundamental


GRAMÁTICA/ESTILÍSTICA – VERSIFICAÇÃO


Versificação é a técnica e arte de fazer versos.

VERSO:           é cada linha do poema; é uma palavra ou conjunto de palavras com unidade rítmica.

                        Exemplo:          “Quem é esse viajante

                                               Quem é esse menestrel

                                               Que espalha esperança

                                               E transforma sal em mel?”        (Milton Nascimento e Fernando Brant)

RITMO:            é a sucessão de sons fortes (sílabas tônicas) e sons fracos (sílabas átonas), repetidos com intervalos regulares e variados.

            Quando se fala ou se escreve em prosa, procura-se fazer pausas através de sinais de pontuação. As pausas revelam o ritmo do texto, aceleram-no ou não, e são usadas em função do significado que se quer atribuir às palavras ou ao texto. Observe:

                                               Os cães dos soldados reagiram ao barulho.

                                               Os cães, dos soldados, reagiram ao barulho.

            No poema, as pausas existem não necessariamente através de sinais de pontuação: as pausas provocam melodia e o ritmo é determinado por elas e pela seqüência de sons.

                                               “Maior amor nem mais estranho existe

                                               Que o meu, que não sossega a coisa amada

                                               E quando a sente alegre, fica triste

                                               E se a vê descontente, dá risada.”          (Vinícius de Moraes)

            A distribuição das sílabas átonas e tônicas e o tamanho do verso determinam o seu ritmo. E para medi-lo é necessário observar a quantidade e a intensidade das sílabas.

METRO:           é a medida do verso. Metrificação é o estudo da medida dos versos, é a contagem das sílabas poéticas ou sílabas dos versos. O processo de divisão do verso em sílabas poéticas recebe o nome de escansão. As sílabas dos versos são sonoras e sua contagem é feita de maneira auditiva, diferente, portanto, da contagem estritamente gramatical que ocorre no texto em prosa. Compare os exemplos:

·         Sílabas gramaticais:

1  /    2     / 3  / 4  / 5 / 6   /  7    / 8 / 9   / 10/ 11/ 12 /13/1 4/ 15/ 16 /17

“Ah! /quem /há /de /ex/pri/mir, /al/ ma/ im/po /ten/te/  e/ es/cra/va.”        (Olavo Bilac)

 = 17 sílabas gramaticais

·         Sílabas poéticas:

   1   /   2    /  3 /     4  / 5  /  6     / 7/    8     / 9/ 10   /   11    /12   /

“Ah!/quem/há/de ex/pri/mir, /al/ma im/po/ten/te e es/cra/va.”

= 12 sílabas poéticas

            Na contagem das sílabas poéticas, as palavras estão ligadas umas às outras mais intimamente, o que confere ao texto o ritmo e a melodia própria do verso.

Observação:    Se ocorrer essa ligação mais íntima entre as palavras, tem-se a prosa poética.

            Em função do ritmo, muitas vezes o poeta reduz ou alonga as sílabas poéticas. Por isso, para se medir em verso e proceder à contagem das suas sílabas, é necessário:

·         contar até a última sílaba tônica do verso. Exemplo:

   1 / 2  / 3  / 4  / 5   / 6   / 7  /  8/ 9    / 10/ 11/ 12

“És/ a /cla/ve /do /sol,/ és/ a/ cha/ve /da /som/bra

   1/ 2/    3   /    4     / 5   / 6  /   7/ 8 / 9 / 10/ 11 / 12/

és/ a/ pom/ba e o /cor/vo./ És/a /ca/pa /na /fu /ga.” (David Mourão Ferreira)

·         observar encontros vocálicos. Exemplos:

“À/ mi/nha/ ca/be/cei/ra o/ Cris/to /mo/rre.”  (Sebastião da Gama)

“Ve/jo/ cam/pos/ e/lí/seos/ de /ver/du/ra

Se/rras/ a/zuis/ de in/fin/da/ sua/vi/da/de.”  (Teixeira de Pascoaes)

 
TIPOS DE VERSO:      Os versos são classificados de acordo com o número de sílabas poéticas que possuem:

·         Monossílabo: verso com uma sílaba poética.

·         Dissílabo: verso com duas sílabas poéticas.

·         Trissílabo: verso com três sílabas poéticas.

·         Tetrassílabo: verso com quanto sílabas poéticas.

·         Pentassílabo (ou redondilha menor): verso com cinco sílabas poéticas.

·         Hexassílabo: verso com seis sílabas poéticas.

·         Heptassílabo (ou redondilha maior): verso com sete sílabas poéticas.

·         Octassílabo: verso com oito sílabas poéticas.

·         Eneassílabo: verso com nove sílabas poéticas.

·         Decassílabo: verso com dez sílabas poéticas.

·         Hendecassílabo: verso com onze sílabas poéticas.

·         Dodecassílabo (ou alexandrino): verso com doze sílabas poéticas.

·         Verso bárbaro: verso com mais de doze sílabas poéticas.

 ESTROFE:       Estrofes são agrupamentos de versos. Elas podem ser classificadas quanto ao número de versos.

·         Monóstico:          estrofe com um verso.                        Sextilha:    estrofe com seis versos.

·         Dístico:               estrofe com dois versos.                     Septilha:     estrofe com sete versos.

·         Terceto:              estrofe com três versos.                     Oitava:        estrofe com oito versos.

·         Quadra ou quarteto: estrofe com quatro versos.           Nona:          estrofe com nove versos.

·         Quintilha:            estrofe com cinco versos.                   Décima:       estrofe com dez versos.

 
RIMA:              Rima é a identidade ou semelhança de sons que ocorre no fim dos versos, embora possa ocorrer também no meio do verso (rima interna).
                        O que importa na rima é que haja coincidência de sons (total ou parcial) e não das letras que a formam.
                        A rima acentua o ritmo melódico do texto poético.
                        Há vários tipos de rima e para especificá-los no poema, convencionou-se usar as letras do alfabeto: os versos que estão ligados entre si pela rima recebem letras iguais.
                        As rimas podem variar quanto à disposição dentro da estrofe. As rimas mais comuns quanto à disposição são:

·         Rimas emparelhadas: sucedem-se duas a duas (AABB).

“Vagueio campos noturnos

Muros soturnos

paredes de solidão

sufocam minha canção.”                            (Ferreira Gullar)

·         Rimas alternadas ou cruzadas: alternam-se (ABAB).

“Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,

Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;

E apesar disso, crê! Nunca pensei num lar

Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.”           (Camilo Pessanha)

·         Rimas interpoladas ou opostas: opõem-se (ABBA).

“Uma cobra obra um ovo

bem menor que o da ema

mas cada um tem a gema

que começa a ser de novo.”             (Abel Silva)

·         Rimas mistas: são aquelas que apresentam outros tipos de combinações.

“Meninas de bicicleta

que fagueiras pedalais

quero ser vosso poeta!

Ó transitórias estátuas

Esfuziantes de azul

Louras com peles mulatas

Princesas da zona sul.”                               (Vinícius de Moraes)

                        As rimas podem variar quanto à classe de palavras dentro da estrofe. As rimas mais comuns quanto à classe de palavras são: pobres e ricas.

·         Rimas  pobres:      são muito frequentes e ocorrem geralmente com palavras de mesma classe gramatical.

“Eu venho da minha terra,

da casa branca da serra

e do luar do sertão;

venho da minha Maria

cujo nome principia

da palma da minha mão.”   (Guilherme de Almeida)

 ·         Rimas  ricas:        ocorrem com palavras de classes gramaticais diferentes.

“Não sei se amei o que era em mim desejo

de me ver no outro refletido.

Sei que amei sempre amei e vejo

que de amar tenho hoje o coração endurecido.”       (Carlos Felipe Moisés)

 SONETO:         Trata-se de uma composição poética de forma fixa, de origem italiana, introduzida na língua pátria pelo poeta português Sá de Miranda por volta do início do século XVI.

            O soneto é composto de dois quartetos e dois tercetos.

VERSOS LIVRES:        são aqueles que apresentam diferente número de sílabas poéticas, ritmo variável, e que geralmente não têm rima.

            “Vamos viver no Nordeste, Anarina.

            Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.

            Deixarás aqui tua filha, tua avó, teu marido, teu amante.

            Aqui faz muito calor.

            No Nordeste faz  calor também.

            Mas lá tem brisa:

            Vamos viver de brisa, Anarina.” (Manuel Bandeira)

                  Os versos livres são muito empregados por grandes poetas do Modernismo como: Menotti Del Picchia, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade.

 

Um comentário:

  1. Na definição de rim, o que é coincidência parcial de sons? Podem dar-me um exemplo?

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