O QUE VOCÊ NÃO DEVE FAZER
EM UMA DISSERTAÇÃO
Profª Cristiane Bastos
1. JAMAIS USE GÍRIAS EM SUA DISSERTAÇÃO
As gírias são
um meio de expressão perfeitamente aceitável em certos momentos de textos
narrativos, em especial nos diálogos travados por alguns personagens. Tornam-se,
entretanto, completamente inadequadas quando usadas em uma dissertação. Esta
modalidade de redação pressupõe uma linguagem formal, não necessariamente
erudita, mas pelo menos bem elaborada.
2. NÃO UTILIZE PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES
Uma dissertação
costuma ser prejudicada pela má utilização de frases feitas, provérbios e ditos
populares. Eles empobrecem a redação; fazem parecer que seu autor não tem
criatividade, pois lança mão de formas de expressão já batidas pelo uso
freqüente.
3. NUNCA SE INCLUA EM SUA DISSERTAÇÃO (principalmente para contar
fatos de sua vida particular)
Dissertar é
analisar um assunto proposto, emitindo opiniões gerais. Deve ser feito de modo
impessoal e com toda objetividade. Essa visão imparcial se perde quando o autor
confunde a problemática que está analisando com os problemas particulares que
possa ter.
4. NÃO UTILIZE SUA DISSERTAÇÃO PARA PROPAGAR DOUTRINAS RELIGIOSAS
A religião,
qualquer que seja ela, é uma questão de fé; a dissertação, por sua vez, é uma
questão de argumentação, a qual se baseia na lógica. São, portanto, duas áreas
situadas em diferentes planos. Não há como argumentar de modo convincente com
base em dogmas religiosos; os preceitos da fé independem de provas ou
evidências constatáveis. Torna-se, assim, completamente descabido fundamentar qualquer
tema dissertativo em ideias que se situem em um plano que transcende a razão.
5. JAMAIS ANALISE OS TEMAS PROPOSTOS MOVIDOS POR EMOÇÕES
EXAGERADAS
Existem, sem
dúvida, alguns temas dissertativos que envolvem a análise de assuntos
dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação pela própria
gravidade de sua natureza. Porém, por mais revoltante que se mostre o assunto
tratado, ele deve ser abordado, em uma dissertação, de modo, se não imparcial,
pelo menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar nossas emoções
interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva que precisa
transparecer em nossas dissertações, mesmo que elas impedem que ponderemos
outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da argumentação
lógica, ela se mostrará convincente.
6. NÃO UTILIZE EXEMPLOS CONTANDO FATOS OCORRIDOS COM TERCEIROS,
QUE NÃO SEJAM DE DOMÍNIO PÚBLICO
É um
procedimento perfeitamente normal lançarmos mão de exemplos que reforcem os fatos
arrolados em uma dissertação.
Entretanto, estes exemplos devem ser de conhecimento público, ou seja,
fatos que todos conheçam por terem sido divulgados pelos meios de comunicação
(jornais, rádio, televisão, etc.) Não devemos, em hipótese alguma, introduzir
na dissertação fatos ocorridos com pessoas que conhecemos particularmente. Isso
daria um cunho pessoal a um tipo de redação que se propõe a analisar assuntos
gerais.
7. EVITE AS ABREVIAÇÕES
Procure
escrever as palavras por extenso. As abreviações são consideradas incorretas.
Você não deve escrever frases como estas:
O ministro c/
seus assessores saíram da sala de reunião.
Verificaremos outros pontos da
questão p/ compreendermos melhor o
assunto.
Os cidadãos tb se preocupam c/ a
redemocratização.
8. NUNCA REPITA VÁRIAS VEZES A MESMA PALAVRA
Um dos erros
que mais prejudica a expressão adequada de suas ideias é a insistente repetição
de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão desagradável a quem lê sua
redação, além de sugerir pobreza de vocabulário. Quando você constatar que
repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure imediatamente encontrar
sinônimos que possam ser usados em substituição a ele.
9. PROCURE NÃO INOVAR, POR SUA CONTA, O ALFABETO DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Evidentemente,
certas caligrafias apresentam variações no modo de escrever determinadas letras
do nosso alfabeto. No entanto, essa possível variação não deve ser exagerada a
ponto de tornar a letra praticamente irreconhecível.
10. TENTE NÃO ANALISAR OS ASSUNTOS PROPOSTOS SOB APENAS UM DOS
ÂNGULOS DA QUESTÃO
Uma boa
análise pressupõe um exame equilibrado da realidade na qual se situa o assunto
tratado em uma dissertação. O bom senso, nas opiniões emitidas, está
diretamente relacionado à capacidade de se enxergar o problema pelos diversos
ângulos que apresenta. Uma análise extremamente radical ignora outros aspectos
que devem ser levados em conta em uma reflexão equilibrada sobre qualquer tema,
por isso é indesejável.
11. NÃO FUJA AO TEMA PROPOSTO
Quando você
receber um tema para dissertar sobre ele, leia-o com atenção e escreva sobre o
que se pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus conhecimentos
sobre ele sejam mínimos. Costumamos atribuir nota zero (ou um pouco mais) a uma
redação sobre outro assunto que não aquele pedido. Não é difícil entendermos o
quanto seria absurdo alguém dissertar sobre os acidentes ocorridos em usinas
nucleares em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos
menores abandonados no Brasil. Para evitar esse tipo de inconveniência, antes
de começar a elaborar a redação, convém ler várias vezes o tema para
compreender exatamente o que está sendo solicitado. Às vezes comete-se um outro
engano semelhante ao que foi comentado acima: pode acontecer de se desenvolver
um tema similar àquele que foi proposto. Isso também prejudica demais a
redação, pois mostra que a pessoa não apresenta capacidade de ler e interpretar
corretamente a solicitação feita. Suponhamos que o tema fosse o seguinte:
O governo brasileiro vem empreendendo esforços
para, juntamente com o governo da República Argentina, criar acordos de
cooperação econômica, lançando as bases para a possível formação de um mercado
comum sul-americano.
Caso não
compreendesse bem o conteúdo dessas afirmações, a pessoa poderia incorrer no
erro de dissertar sobre algum assunto paralelo. Por exemplo, escreveria sobre
como essas duas nações conseguiram retomar os rumos da democratização, depois
de longos períodos de ditadura militar. Embora esta análise esteja relacionada
com o tema dado, não aborda propriamente o assunto central proposto, ou seja,
os acordos de cooperação econômica.
Até agora,
mostramos o que você não deve fazer em sua dissertação. Terminaremos este
assunto com uma recomendação importantíssima sobre o que deve ser feito:
* Utilize
sempre a 1ª pessoa do plural em vez da 1ª pessoa do singular em suas
dissertações. Em outras palavras, você deve escrever “acreditamos”,
“entendemos”, “analisamos”, e não “acredito”, “entendo”, “analiso”. Saiba que,
embora possa parecer um tanto estranho, este é o procedimento habitual quando
se redige uma dissertação. Parece-nos indiscutível o fato de a 1ª pessoa do
plural imprimir à redação um cunho impessoal, além de elevar o nível da
linguagem. Ademais, é a forma convencionalmente usada nas dissertações em
geral.
*
Procure sempre se manter informado sobre os mais diversos assuntos. Quanto
melhor você conseguir compreender as questões econômicas, políticas e sociais
de seu país e do exterior, maiores condições terá de redigir sobre qualquer
tema. Não perca oportunidades de conversar com pessoas que conheçam determinado
assunto, na tentativa de aprender algo com elas. Ler jornais e revistas,
assistir a programas de telejornalismo, ouvir entrevistas pelas emissoras de
rádio também parece-nos muito importante.
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